Um disco sexy, chapado, transgressor e barulhento. Mas você não vai ler nada sobre isso nas próximas linhas…

“Era 1991…

Comprei Isn’t anything voltando pra casa após ter decidido abandonar o Senai, sabendo a tempestade que seria quando fosse contar a decisão aos meus pais.

Enfim, ao lado do ponto de ônibus, havia uma lojinha de revelação fotográfica (sim, jovens, isso existe), e nessa lojinha tinha umas caixas cheias de discos usados, e como eu queria adiar a volta pra realidade, fui lá dar uma fuçada.

Entre trilhas de novela, lambada, Amados, Wandos e toda uma sorte do que havia de pior, vi uma capa estranha, que eu não conseguia definir se era borrada, iluminada demais ou as duas coisas, com o nome (que eu supunha ser) da banda escrito embaixo, com letras minúsculas.

Achei do caralho e fui pedir pro cara da loja pra ouvir, mas ele me disse que não podia, porque era usado e blá, blá, blá. Após muita insistência, pôs pra tocar uns três segundos da primeira faixa de cada lado, e eu, claro, não tive a menor ideia do que se tratava.

Perguntei se ele sabia, e o cara teve a coragem de me dizer que era ‘uma coisa meio metal, meio gótica’ (eu estava com uma camiseta do Sisters of Mercy, daí a associação pra vendê-lo a mim). De qualquer jeito, comprei.

E até hoje, tendo ouvido Isn’t anything por 1.838.389.330.302.022.039 vezes, continuo sem entendê-lo.

Outra coisa sobre o disco: ele sobreviveu a um dilúvio de verão, encostado no canto de uma dessas muretas que ficam ao lado dos portões das casas.

Eu não tinha aonde escondê-lo, só ali, e mesmo com a capa tendo derretido quase completamente, o vinil ficou intacto. Isso foi no dia em que aconteceria o show do Guns’n’Roses em São Paulo, que foi adiado. Vários amigos metidos a roqueiros iam e me culparam por ter praguejado tanto contra Axl Rose e cia.

Azar deles, sorte a minha.”

Texto originalmente publicado na coluna Os Discos Da Vida, do Floga-se.


14 respostas para “My Bloody Valentine – Isn’t Anything (1988)”.

  1. Banda Fantástica, Disco Fantástico!

  2. […] irlandeses não criaram o shoegaze, mas graças a seus dois álbuns – Isn’t anything e o já citado Loveless – elevaram a massa de barulho moldada em melodias a um tipo de […]

  3. […] de canções mais lentas…mais ou menos como aconteceu com o My Bloody Valentine de Isn’t anything para Loveless . Com essas referências acho que não preciso dizer mais […]

  4. […] novembro e elevou a enésima potência o barulho que a banda do chato Kevin Shields havia feito em Isn’t anything; até hoje é o combustível mais utilizado pela molecada que gosta de olhar pros sapatos enquanto […]

  5. […] para si o posto de criador e representante maior do shoegaze graças ao lançamento, em 1988, de Isn’t anything. Por mais que se discuta o marco zero da cena que celebra a si mesma, é fato que a estreia oficial […]

  6. […] Começava a ser pavimentado o caminho que levaria a Isn’t anything… […]

  7. […] há muito o que falar, né? Nowhere é tão foda ponto de referência e escola quanto Isn’t anything, Heaven’s end e outros predecessores, e quis o acaso que saísse justamente no dia dos […]

  8. […] novembro de 1988 o My Bloody Valentine lançava Isn’t anything e deixava de uma vez por todas o mundo todo de queixo caído e, literalmente, olhando para seus […]

  9. […] nos primeiros meses daquele ano, começaram a trabalhar no sucessor de Isn’t anything, e a iludida Creation Records acreditava que o tal novo disco ficaria pronto em questão de dias, […]

  10. […] nos primeiros meses daquele ano, começaram a trabalhar no sucessor de Isn’t anything, e a iludida Creation Records acreditava que o tal novo disco ficaria pronto em questão de dias, […]

  11. […] Unido, mas encontra sua primeira grande repercussão no álbum de estreia de My Bloody Valentine, Isn’t Anything (1988). Estima-se que o gênero tenha surgido através da forma tímida de tocar em público, pouco […]

  12. […] por aqui) tem exatamente o som, a forma, o gosto, o cheiro, tudo dessa mistura. Pode pensar em My Bloody Valentine circa Isn’t anything colidindo com Shop Assistants ou Lush esbarrando com Tiger Trap, sei lá. Ou melhor, sei sim, só […]

  13. […] e consequentemente os Valentines eram pressionados por todos os lados a por na roda um sucessor de Isn’t anything, e para não deixar a Creation no vácuo lançaram o EP Glider, que lhes rendeu mais tempo, […]

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