De todas as bandas surgidas na ressaca do tsunami punk que varreu a Inglaterra (e o mundo) na metade dos anos 70, o The Cure é a de maior longevidade e, talvez por isso, aquela que consegue através de suas canções narrar a história da vida de muitas pessoas – inclusive a minha.

Robert Smith e cia. estão na ativa desde o ano mágico de 1976, e desde 79 vêm lançando álbuns; alguns extraordinários, outros nem tanto, e entre os indispensáveis pelo menos um é essencial: Disintegration.

 

A mais bela e triste canção de amor de todos os tempos

 

As 12 faixas do disco formam um conjunto perfeito, numa viagem melancólica por paisagens lúgubres. Se Pornography (de 82) é o primeiro álbum da ‘trilogia da depressão’ (Blood Flowers – de 2000 – é o último), é em Disintegration (o ‘interlúdio’) que o Cure traduz como nunca a tristeza em forma de música.

Nele não há resquícios da alegria presente em The head on the door (85) ou Kiss me, kiss me, kiss me (87). Musicalmente é um trabalho denso, carregado; e liricamente…bem, é gelado, de cortar o coração. Ou os pulsos.

 

“Love song”, o momento mais pop e sutil do álbum

 

Disintegration traz em si também muito da influência do college/indie rock da época. Efeitos hipnóticos, guitarras atmosféricas à dream pop e até beats mais pulsantes – como em “Fascination street” – fazem parte de seu molho, mas não aliviam seu clima sombrio.

Entre canções de amor para corações despedaçados como “Pictures of you” (‘Tenho vivido tanto tempo com suas fotos, que quase acredito que essas fotos são tudo que eu posso sentir…’), pesadelos surrealistas (‘O Homem-Aranha vai fazer de mim o seu jantar desta noite’, canta Smith em “Lullaby” – ou canção de ninar, em português) e o medo da morte (“Disintegration”), o álbum condensa em pouco mais de uma hora tudo que compõe o universo gótico, com suas dores e poesias.

 

 

O estrago causado pelo impacto deste disco na música não é nada se comparado ao que ele vem causando na vida de adolescentes deprimidos desde 1989.

Ouvi o álbum pela primeira vez quando tinha uns 14 anos, e nunca me recuperei. Se a história da minha vida pode ser contada através de canções do The Cure, os capítulos mais tristes com certeza são narrados por Disintegration.

Essencial!

 


14 respostas para “The Cure – Disintegration (1989)”.

  1. […] perfeitamente boas influências (shoegaze, fragmentos de psicodelia e muito do The Cure na fase Disintegration – especialmente pelos timbres e linhas de baixo) nas 5 faixas do disquinho, a banda entrega […]

  2. […] Disintegration é, pra mim, o melhor álbum da carreira do Cure, provavelmente mais por razões afetivas/emocionais que por inovação ou o que o valha. […]

  3. […] escutar algo do pós-punk britânico eu iria direto às catacumbas mais sombrias. No mínimo um Disintegration e vá […]

  4. […] baratinho por Mask, no Museu do Disco. A saber, meus outros três discos pós-punks preferidos são Disintegration, do Cure; Unknown Pleasures, do Joy Division; e The Queen Is Dead, dos […]

  5. gosto muito desse ao vivo, que é uma turnê do desintegration https://pt.wikipedia.org/wiki/Entreat

    1. gosto muito também!

  6. This is one awesome post. Great.

  7. […] julho de 89 o Cure estava no meio da Prayer tour divulgando o recém lançado Disintegration quando passaram pela Wembley Arena, em Londres, e decidiram registrar a apresentação em um disco […]

  8. Cristiana Lopes

    Que músicas, não? Quanta tristeza e beleza em cada letra, em cada melodia. Seu post foi ótimo. Bom reviver. Também ouvi quando tinha uns treze anos e sempre me parecem novas.

  9. Marcelo Alves

    Discaço!!!lembro que trabalhava na avenida paulista e morava ali perto, a MTV ainda não existia no Brasil, então na hora do almoço eu saia correndo para ver os clips deste disco, em um programa do almoço na Gazeta!!! bons tempos!! v alia a pena fazer esta correria!!!

  10. […] é o segundo num pódio imaginário com meus preferidos na longa carreira da banda. Só perde pro Disintegration, mais por razões emocionais que qualquer outra […]

  11. […] e sucesso endoidaram Bob Smith, que mandou Lol embora, se encheu de LSD e birita e escreveu Disintegration, trazendo o Cure de volta pras paisagens melancólicas que tanto se enraizaram em mim. Mas isso […]

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