Eu ia por o título ‘O ano em que o Cure saiu da depressão’ ou ‘O ano em que o Cure sorriu’ neste texto, mas acabei desistindo porque ia ficar muito Vice ou similares e o rolê aqui é outro, né? Então resolvi seguir o caminho usual, porque sou velho e básico.
A coletânea Japanese whispers saiu no natal de 83 e junta os três singles lançados naquela ano e que tiraram Bob Smith e cia. (Lol Tolhurst, resumidamente) do buraco em que se enfiaram com o maravilhoso e terrível Pornography, “Let’s go to bed”, “The walk” e “The lovecats”, acompanhados de seus lados b – exceto “Mr. pink eyes”, do disquinho dos gatos do amor.
E mesmo que esses lados b tragam momentos bem densos, como “Lament” e “Just one kiss”, os lados A são o tipo de coisa que nem o mais esperançoso dos psiquiatras esperaria que saísse da cabeça dos sobreviventes da pornografia, que um ano antes queriam por um fim em tudo e cantavam sobre o sorriso vodu dos irmãos siameses e os vermes que comiam sua pele.
Todos esses singles de 83 são iluminados, dançantes e felizes até a medula, cheios de sintetizadores ‘coloridos’, grooves (funkeados e jazzísticos) e – mesmo que no ano seguinte o Cure enveredasse pelo esquisito The top – abriram várias portas mercadológicas pros caras e serviram como catapulta para que conquistassem o mundo com The head on the door (85), (a outra compilação) Standing on a beach (86) e Kiss me, kiss me, kiss me (87).
Obviamente toda essa felicidade e sucesso endoidaram Bob Smith, que mandou Lol embora, se encheu de LSD e birita e escreveu Disintegration, trazendo o Cure de volta pras paisagens melancólicas que tanto se enraizaram em mim. Mas isso são outras histórias.
O lance é que hoje à tarde pus os sussurros japoneses pra tocar enquanto lavava louça, pela janela o sol começou a brilhar e de repente eu tava dançando e me esgoelando ao som de “Let’s go to bed”. E foi do caralho!
‘But I don’t care if you don’t
And I don’t feel if you don’t
And I don’t want it if you don’t
And I won’t say it
If you won’t say it first..’
Foda!!! Disco e texto!
Valeu, mano!
acabei de ouvir, esse álbum me surpreendeu por ser do the cure,caracas e obg pelo texto
Do que o Cure lançou, esse apanhado de singles e bsides sempre foi o que sempre ignorava. Mas depois de dar uma chance pra ele, não tem como ignorar a qualidade de duas faixas: Lament, e Just One Kiss (essa melhor ainda na versão extendida). São duas faixas que melhor sintetizam uma conexão com o que lançaram antes. Lament já tinha saído numa promo de revista, flexi pop, com letra inintelígivel murmurada pelo Robert. Fora essas duas não tem como ignorar o outro bside The Dream, que junto com as outras duas faixas, superam muito os Asides. The Walk, nada mais é que um plágio sem vegonha de Blue Monday do NO. Lets go to bed, a faixa pop descartável pra autossabotar o Cure que tava indo pras cucuias na época, mas que virou hit. Lovecats, a exceção, pop desmiolado mas que pela irreverência marca um ponto alto na criaividade vocal do Robert Smith que iria evoluir pra estilos mais profusos que as lamúrias da trilogia 80-82.
É um achado, pra quem curte o Cure é interessante pela estranheza que causa em quem curtia os álbuns anteriores (meu caso).
Valeuus