Transformar distorções em música é fácil: cria-se uma base e sobre ela se adiciona camadas e mais camadas de ruídos diversos gerados pelas incontáveis ferramentas capazes de levar um simples acorde de guitarra a outras esferas sonoras. Mas fazer desse barulho algo capaz de emocionar é um ponto onde poucos artesãos conseguem chegar.
O gaúcho Régis Garcia é um desses seres iluminados, herdeiro direto do mestre Shields e responsável pelos trabalhos que tornaram sua banda, a Sorry Shop, o supra-sumo do shoegaze nacional e – como já dito aqui antes – um dos grandes representantes globais do gênero.
Softspoken é o último registro do grupo, lançado ano passado via Lovely Noise/Crooked Tree. Nele o quinteto de Rio Grande desacelera e mergulha ainda mais fundo no universo de sonhos borrados por efeitos e vocais distantes que caracteriza o chamado dream pop, irmão siamês e chapado do shoegaze. Cada uma das 11 faixas do álbum vem recheada com essa combinação onírica e coberta por uma melancolia fria e quase palpável nas entorpecentes, tristes e belas “Rosetta” e “Green”.
Disco irrepreensível e altamente recomendado!