
Hoje em dia é normal ver e ouvir bandas debutarem esfregando objetos nas cordas de suas guitarras desafinadas, berrando em megafones, repetindo no baixo duas notas durante 5 minutos e experimentando com distorções como quem lambe um sorvete. Tudo isso graças a uma banda nova iorquina que fazia exatamente a mesma coisa, só que 30 anos atrás.
No distante 1982 o Sonic Youth estreava pela gravadora de seu mentor (a Neutral Records, de Glenn Branca) com 5 faixas reunidas no EP – que a própria banda chama de primeiro álbum – Sonic Youth, uma mistura alucinógena de ingredientes que vão do minimalismo barulhento do Velvet Underground ao free jazz, das viagens repetitivas do Neu! ao faça você mesmo do então jovem punk.
Sonic Youth não é, claro, o primeiro trabalho experimental a emergir globalmente. O PIL, por exemplo, já havia dado ao mundo coisas como Metal box e Second edition; mas a estreia do SY apresentava uma banda que continuaria pelas próximas décadas a explorar caminhos desconhecidos e tornar esse terreno estéril um fértil campo de criação musical dali em diante.
Há fragmentos de disco music em “Burning spear”, percussão tribal em “She’s not alone” e “I don’t want to push it” e uma longa jam instrumental de 8 minutos encerrando o EP com “The good and the bad”, tudo encoberto pelas guitarras de Moore e Ranaldo e conduzido pela cozinha de Kim Gordon e Richard Edson – que na sequência saiu do Sonic Youth para voltar à sua banda original, Konk, e depois tentar a sorte como ator em Hollywood (ele é o manobrista freak em “Curtindo a vida adoidado”).
Enfim, é uma vasta gama de referências e muita informação contida em pouco mais de 24 minutos. Além disso, é a primeira mostra do que é o Sonic Youth: uma banda ímpar, que durante toda sua carreira nunca se preocupou em seguir padrões estéticos ou tendências, e muito menos em se tornar um produto de consumo fácil e imediato.

