O tsunami psicodélico que varreu o mundo na segunda metade da década de sessenta passou pelo Brasil e não deixou nada no lugar. O país, que ainda aplaudia a bossa nova e a jovem guarda, viu a versão nacional do flower power – a tropicália – nascer sob a violência da ditadura militar. E talvez não tenha entendido nada, como disse Caetano Veloso.
Dentro desse universo em expansão, a jovem baiana Gal Costa lança em 1969 dois álbuns homônimos: um deles mais voltado à tradição da bossa, mas já ampliando os horizontes da cantora em direção à soul music e ao rock; o outro, uma verdadeira explosão lisérgica, sem precedentes, um momento único na música brasileira que ainda hoje – passados 40 anos – distorce cérebros mundo afora.
Lançado pela Philips, Gal Costa conta com os arranjos e a direção musical do maestro Rogério Duprat, o que por si só já diz muito. Sua mistura de talento (dom?) e insanidade dão o ‘ar’ ao álbum, sua verve mais psicodélica, com ecos, delays, fantasmas e discos voadores. As linhas de baixo e guitarras barulhentas saem das mãos de Lanny Gordin, músico genial que foi fundo nas viagens com LSD e por isso sumiu do mapa após fritar o cérebro, em 1974.
Musicalmente, as nove faixas do disco flutuam entre o rock e a soul music, com Gal explorando seus recursos vocais da forma mais experimental possível, indo de gemidos a gritos histéricos, miados e chiados, mas também cantando – e muito – em canções clássicas como “Cinema Olympia” e “Meu nome é Gal”, essa última escrita por Roberto e Erasmo especialmente para ela.
Com composições de Caetano (“The empty boat”), Gil (“A cultura e a civilização”), Jorge Ben (“Tuareg”) e Jards Macalé (“Pulsars e quasars”), Gal Costa é o auge do movimento psicodélico; o mergulho profundo de Gal nesse oceano de águas coloridas, a perda total da inocência, a liberdade para experimentar, ousar e bater de frente com a sociedade careta e os milicos do Estado.
Este é o grito definitivo da tropicália, a supernova que brilhou no céu brasileiro em 1969, rasgando os limites da música tupiniquim e mostrando a visceralidade de Gal Costa, sem medo de romper com crenças ou tradições.
Obrigatório!