2021, segundo ano pandêmico. O ano que começou sem vacinas, sem esperanças e chegou ao final vacinado e esperançoso, mas ainda (ou novamente) com medo. E com fome. Muita fome.

Mais um ano em que o PCP permaneceu numa espécie de submersão involuntária, volta e meia buscando ar e respirando devagar para depois voltar a esse limbo sufocante chamado realidade brasileira. Incontáveis vezes me sentei para escrever aqui, incontáveis foram as frustrações ao perceber que nada fluía. As palavras se perdiam entre as mazelas do dia a dia.

Mas aos poucos o sangue do blogue voltou a ser oxigenado e a circular com mais força; um pequeno texto aqui e outro ali acompanhando discos desenterrados durante uma vida de adicção em música. E mesmo que neste lento retorno e dele em diante a tendência seja cada vez mais mergulhar fundo em busca de Pequenos Clássicos Perdidos em detrimento de novidades musicais, meus ouvidos estiveram atentos ao que foi produzido no ano finado.

Uma enxurrada de bons e ótimos álbuns foram lançados em 2021, e alguns deles giraram por muitas vezes em minha vitrola virtual. Do belo Endless arcade dos amados veteranos Teenage Fanclub à colaboração entre Bobby Gillespie e a francesa Jehnny Beth, passando pelo incensado Idles até a jovem Snail Mail e os bocudos Sleaford Mods, muita água fresca rolou no meu oceano particular. Entre os brasucas, fui do axé forte de BaianaSystem e Mateus Aleluia a Eliminadorzinho e (os lendários) João Donato e Jards Macalé sem perder o ritmo. E tanto entre gringos quanto nacionais, essa é apenas uma parte, talvez a mais exposta, do que houve de bom em 2021.

Mas nenhum dos citados ou não citados me pegou de jeito como os dois álbuns dos artistas que compõem o título desta postagem: New long leg, o aguardado disco de estreia dos ingleses Dry Cleaning e Delta Estácio blues da carioca Juçara Marçal.

 

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New long leg é pós-punk, é PJ Harvey (foi produzido por John Parish) mas – principalmente pela voz e forma falada de cantar de Florence Shaw – é muito Sonic Youth. Não tem a mesma carga de barulho e/ou dissonâncias, mas é impossível escutar SUa faixa título e não sacar a herança genética ali presente.

Dito isso fica claro que o Dry CLeaning não mudou o mundo da música com seu debute, mas ajudou a mudar pra melhor o mundo de quem o absorveu por completo, sem a pressa dominante, sem pular canções ou escutá-lo em velocidade alterada como fazem hoje alguns discípulos de Ed Motta.

 

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 Delta Estácio blues é uma peça que traz em si várias peças. Se mantém coeso guiado que é pela voz de sua autora, mas musicalmente é uma colcha de retalhos costurada com sintetizadores e bateria eletrônica, ruídos e ritmos quebrados, poesia e peso, cacofonia e candomblé.

Acompanhada por um time poderoso de músicos/amigos, Juçara segue experimentando possibilidades e a meu ver traz para 2021 – sob a ótica da música contemporânea – a liberdade artística e falta de amarras de gente como Itamar Assumpção e a turma da Vanguarda Paulista.

 

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E assim se encerra mais um ciclo. Que venha então este 2022.

Axé!


2 respostas para “2021 em Dois Discos: Dry Cleaning e Juçara Marçal”.

  1. walter carvalho

    Comprei em cd’s importados (não curto música virtual, peço desculpas a maioria ) o “Endless Arcade” (TF), o “Ultramono” (Idles), “Cavalcade” (Black Midi), “Sideways to New Italy (Blackout C.Fever), esse maravilhoso début do Dry Cleaning, entre outros excelentes discos que saíram nessa mesma época, e até hoje, já caminhando pro final de 2022, essas pequenas jóias costumam visitar meu cd-player hehehe..

  2. […] certamente te lembrar outros grupos bacanas com meninas à frente como Sweeping Promisses (menos), Dry Cleaning, e Wet Leg (mais), e isso não é, definitivamente, um problema. Ao menos não por […]

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