Já disse aqui uma ou mais vezes que os anos 90 foram uma época muito louca. Acompanhe o raciocínio: em 1996 Nick Cave e suas semente ruins lançaram um disco chamado Murder ballads, ou baladas de assassinato, onde ele colocou, entre canções originais e côveres (tem um Bob Dylan ali no final), 10 canções que falam basicamente sobre morte.

E quando Nicolas Cavernoso fala sobre morte não é nada como ‘meu bem, você morreu e eu fiquei aqui chorando etc, etc, etc’. O australiano é trovador do tipo que expõe as entranhas daquilo sobre o que escreve, então no álbum há um pai de família que viu a família ser morta por um serial killer, assassinatos por ciúme, muito humor mórbido e outros horrores que vagueiam pela mente de seu autor.

Mas voltando aos anos 90. Cave convidou para Murder ballads a musa PJ Harvey, o desdentado Shane MacGowan e sua bela conterrânea Kylie Minogue, e é justamente nela que quero chegar (ops): graças à baixinha e seu dueto o Sr. Sombrio em “Where the wild roses grow”, que teve clipe rodado à exaustão na MTV, o álbum se tornou o maior sucesso comercial na carreira do cara.

Imagino ele tomando café da manhã com sua família há 20 anos e conversando algo como ‘vocês viram só, escrevi o disco mais sinistro da minha vida, explorei todas minhas maluquices e mesmo assim um monte de gente comprou POR CAUSA DE UMA CANÇÃO’. E também imagino outras famílias, essas de bem, cristãs e tudo mais, chorando de horror ao por o álbum para tocar após a missa de domingo enquanto preparavam o almoço. Bom, eles que se fodam.

O lance é que Murder ballads é a maior e mais sinistra peça teatral de Nick Cave, musicada com muito blues, jazz, rock e apresentada a um público nada seleto em noites sujas regadas a grandes quantidades de álcool e narcóticos. Como deve ser.

Essencial!

 

 

Faixas:

01 – Song of Joy
02 – Stagger Lee
03 – Henry Lee (com PJ Harvey)
04 – Lovely Creature
05 – Where the Wild Roses Grow (com Kylie Minogue)
06 – The Curse of Millhaven
07 – The Kindness of Strangers
08 – Crow Jane
09 – O’Malley’s Bar
10 – Death Is Not the End (côver de Bob Dylan)


2 respostas para “Nick Cave & The Bad Seeds – Murder Ballads (1996)”.

  1. […] dos Bad Seeds, há a grosso modo apenas a poderosa voz de barítono de Cave. O sabor de whisky de Murder ballads (de 96), por exemplo, foi substituído pelo da cerveja; o tom confessional deu lugar à espasmos, […]

  2. […] Assim, optei por Alles ist gut – além da capa e entre outras coisas – porque ele é, de uma forma muito improvável e incrivelmente surreal, o álbum onde está o grande hit do DAF, “Der Mussolini”, que coloca o citado facho, seu parça Adolf Hitler e Jesus num fervo sensual impensável para se tornar sucesso. Mas o que são probabilidades, não é mesmo? (Numa daquelas sinapses estranhas me lembrei da história de Murder Ballads, de Nicolas Cavernoso). […]

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