Dois jovens de ascendência africana se conhecem na escola em Londres, na primeira metade dos anos 80. Ambos desde sempre ligados à música: um com os pés nos sound systems movidos a dub, o outro com a cabeça no jazz porra-louca de gente como Miles Davis e Herbie Hancock, e ambos apaixonados por Cocteau Twins. De forma bem resumida, este é o começo da história de uma das bandas mais influentes e (durante muito tempo) desconhecidas de todos os tempos, o seminal A.R. Kane.

Alex Ayuli e Rudy Tambala lançaram seu primeiro single sob este alias em 1986, e assim que “When you’re sad” viu a luz do dia a dupla foi rapidamente enquadrada no universo dream pop/noise e chamada pejorativamente pela mídia inglesa de ‘os Jesus and Mary Chain pretos’. Acontece que eles nunca tinham escutado os irmãos Reid, e a despeito das semelhanças distorcidas e carregadas de feedback, Ayuli e Tambala vislumbravam outras paisagens sonoras logo adiante.

Se valendo da bagagem musical adquirida nos guetos londrinos e trabalhando ao lado do ídolo Robin Guthrie na 4AD o A.R. Kane começou a mostrar nos anos seguintes que ia além de rótulos, que aliás misturava esses mesmos rótulos para criar uma música única, híbrida, onde dream pop/shoegaze e dub se misturavam a folk e dance music; onde beats eletrônicos pesados e vocais oníricos cruzavam caminhos percussivos e samples, apontando em direção a um futuro possível (prova cabal desse hibridismo é que antes mesmo de lançarem seu primeiro álbum foram convidados pelo boss Ivo Russell a se juntar ao Colourbox – também do cast da 4AD – e gravar um único single. O resultado é, simplesmente, “Pump up the volume”, lançado sob a alcunha M|A|R|R|S.).

Bem, falando em singles, o lado b de “Pump up the volume” traz a sensacional “Anitina”, que foi meu primeiro contato com o A.R. Kane – mesmo que à época não fizesse a menor ideia de quem eles eram. A canção não está em nenhum dos três discos oficiais da banda, então juntando lé com cré decidi por na roda não os tais discos, mas sim a coleta Complete singles collection – lançada em 2012 pela mesma One Little Indian que pôs no mercado o primeiro registro de Ayuli e Tambala citado lá em cima – que reúne, como bem explica o título, os singles que a dupla produziu enquanto esteve totalmente na ativa.

Do dream pop/proto shoegaze “When you’re sad” (86) ao quase trip-hop cheio de soul “Honey be” (94) o que se escuta aqui é a história de uma banda que em um curto período na ativa reinventou a música como quis e, se não teve o devido reconhecimento, foi por estar anos-luz à frente de seu tempo.

Ouça alto!

 

 

Ou no spotifail

 


3 respostas para “A.R. Kane – Complete Singles Collection (2012)”.

  1. […] à beats eletrônicos e dub, algo como um choque entre “Soon”, qualquer coisa do A.R. Kane e os momentos haxixados do Chapterhouse em Blood […]

  2. […] como acontece com M/A/R/R/S, Bomb The Bass e alguns outros, é difícil mensurar a importância do Coldcut para a música […]

  3. […] a A.R. Kane e Majesty Crush, o Veldt forma a santa trindade dos gazers pretos. Assim como a banda de Alex Ayuli […]

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