Eu tinha 15 anos e todo dia era a mesma tortura: acordar cedo para passar o dia estudando algo que não gostava, num lugar onde não queria estar, cercado por um bando de gente que eu não queria ver, vivendo uma vida que definitivamente não era a minha.
Me sentia uma maquininha humana, ou melhor, um pequeno monte de bosta descendo privada abaixo rumo ao esgoto social que transformava toda a massa adolescente em jovens velhos perdidos em vícios idiotas e comportamentos esperados pela família, vizinhos e desconhecidos. Era como enxergar o fim da vida antes dela ter realmente começado.
Eu queria meus amigos. Queria as garotas. Queria a luz do sol, a liberdade e as experiências que mal tinha começado a viver; queria fugir, ler livros, ouvir discos, andar de skate, trepar, dormir, fumar maconha, respirar as felicidades e tristezas que só a adolescência nos proporcionam.
Não foi fácil tomar coragem para mandar tudo isso à merda. Assumir uma posição e enfrentar o mundo aos 15 anos é pesado; envolve força e impulsividade, claro, mas elas trazem junto culpa, medo e uma porção de sentimentos que com o tempo se tornam os pesadelos que levam adultos aos analistas (risos nervosos).
Mas em algum momento eu apertei o ‘botão do foda-se’. Encarei aos trancos as tempestades que se seguiram, me fodi até não poder mais, mas não arredei o pé. Em meio a esse inferno, uma música era minha companheira ao acordar, me servindo ao mesmo tempo como despertador e combustível para acelerar contra o caos, ou para, como Timothy Leary, surfá-lo.
Até hoje quando escuto “It’s end of the world…” me lembro claramente do grande terremoto que sacudiu minha vida àquela época, mas a maior recordação é do quanto essa música foi – e é – importante pra mim. Como Noah Ray, o guri do clipe, eu estava em meio ao fim do mundo; mas graças ao R.E.M. e essa canção, eu me sentia bem. E novamente vivo.
Excelente “depoimento” caro Fábio!!!
valeu, Ângelo!
descrever a vida como uma tortuosa inesperada doçura de desencontros loucos e fascinantes ,pra somente quem soube aproveitar …a vida ,oh vida !!!
Relato preciso e certeiro (perfeito!), Nobilíssimo Fábio! Que máximo! Amei.
Velhos e bons tempos, eu era (éramos) feliz, e sabíamos disso… Saudadonas, dos dias pretéritos, anos 80 saudosos… Nostalgia extreme! rs.
Só pra constar, enquanto escrevia este comentário; re-ouvi aos zilhões esta Sonzeraça da vida, sim… Sempre há de ser! Bravo!
Por fim, no clip iradaço aí (que personifica bem, a v!be da letra); em meio ao caos, vemos duas cenas, que, pra mim, expressam muita ternura (que não se deve perder, apesar da loucura do mundo); a da rosa, e a do cachorrinho deitado, ao lado do garoto, demonstrando lealdade, carinho etc e tal… Bonito demais! Bravíssimo!
Viva R.E.M., para sempre!
Abraços “REMinianos” fraternos!
P.S.: Tamo junto, meu brother! 👊
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Cadê o menino?