
Eu tive a chance de ver o Faith No More ao vivo em um momento angular: na ressaca monstruosa de The real thing mas já, de leve, adentrando no bizarro universo Pattoniano criado de Angel dust em diante.
Isso era início dos anos 90, e as experiências do vocalista do FNM com seu então projeto paralelo Mr. Bungle passavam a refletir diretamente em seu ‘trabalho principal’. O resultado, definitivamente, não é mais do mesmo. Angel dust é, por assim dizer, o fim da adolescência para Mike Patton e o Faith No More.
Se essas transformações não ficam tão à mostra na abertura do álbum com “Land of sunshine” e “Caffeine”, que mesmo já com samples e menos hormônios ainda são basicamente semelhantes ao que a banda fez em The real thing, com “Midlife crisis” e ainda mais na narrativa “RV”, dá pra sentir que o funk metal não interessava mais aos caras. Uma pena, né Warner…
A mesma pegada de “Midlife crisis” se repete em “Everything’s ruined”: riffs pesados, uma linha de baixo cavalar, teclados, vocais sutis e – aí corro o risco de ser achincalhado, um quê de música dançante, que é outra marca de Angel dust.
O puro e simples metal volta à cena com “Malpractice”. Puro e simples? Não, não. Sample do Kronos Quartet; lá pelos 2 minutos e meio uma quebra, um piano quase caixinha de música e, aí sim, de volta ao peso.
“Kindergarten” é outra faixa mais tranquila, ‘adulta’, mas abre caminho para a chapada “Be agrressive”, que me soa como uma continuação mais natural de The real thing.
“Small and smaller” é outro metal raro, com algo próximo do jazz enfiado entre riffs poderosos, e aí “Small victory” começa, eu abro um sorriso e me lembro que aos 16 anos eu podia dizer que tinha visto uma banda passar por uma metamorfose e ainda assim permanecer perfeita.
“Crack Hitler” e principalmente “Jizzlobber” são pra sacudir a cabeça; a primeira cheia de groove, a segunda pra enxergar o Sabbath que sempre existiu no Faith No More.
Fechando a história, “Midnight cowboy”, cover de John Barry e prova definitiva de que à partir dali as coisas nunca mais seriam como antes.
Essencial!

