À partir dos anos 60, o então jovem rock and roll foi definitivamente sacudido pela soul music, e dali em diante nada seria como antes. Enquanto os Beatles tiravam sarro geral com Rubber soul, o resto do mundo roqueiro se rendia à música negra – de onde o rock surgiu, como todos bem sabem.
Nas décadas seguintes, uma porção de gente boa deu sequência à essa tradição, e entre erros (Give out but don’t give up, do Primal Scream) e poses (Lenny Kravitz), os irmãos Robinson (Chris e Rich) e seus corvos negros cometeram nos anos 90 (92, exatamente) o absurdo chamado The southern harmony and musical companion.
Os Black Crowes já tinham estrada quando lançaram este segundo álbum de sua carreira – que havia começado lá na metade dos anos 80. Mas a entrada de um tecladista fixo e de um novo guitarrista (Marc Ford) deram à banda o que ela precisava: um tanto mais de técnica. Aí, a equação estava completa.
Southern harmony foi um sucesso estrondoso, tanto de crítica quanto de público. Vendeu rios e emplacou ao menos dois grandes hits radiofônicos e televisivos: “Remedy” e “Thorn in my pride”.
O álbum é conduzido tanto pela guitarra vibrante de Rich quanto pela voz e performance apaixonadas de Chris. O clima de suas 10 faixas é totalmente retrô, como se a banda tivesse sido transportada para os anos 70; além dos riffs, timbres, backing vocais (totalmente soul), harmonias e etc, a indumentária do então quinteto não deixa dúvidas quanto às suas influências.
A força emotiva da balada “Bad luck blue eyes goodbye” e a harmônica de “Hotel illness”; o peso de “My morning song”; a cover de “Time will tell”, tudo remete a 30 anos antes do disco ser lançado. De Stones a Zeppelin, de Faces a Lynyrd Skynyrd e Aerosmith pré anos 80.
The southern harmony and muical companion faz parte da galeria dos grandes discos de rock de todos os tempos. E, o mais legal, apesar de ser todo construído sobre bases pré-existentes, não soa como uma mera cópia de suas muitas e ótimas referências.
Por essas e outras, está na lista de preferidos da casa. Recomendado como trilha sonora para muitas cervejas geladas!