
Conheci o Neu!, bem como todos os malucos alemães do kraut rock (Can, Faust, Cluster), através de um amigo que por um tempo ficou absolutamente vidrado neles. E confesso: no início torci o nariz.
Mas com o passar do tempo, a mente mais aberta e os sentidos ampliados por uma vasta gama de experiências, a música de Michael Rother e Klaus Dinger, os dois membros do Neu! – ambos dissidentes do Kraftwerk – me levou a um transe do qual nunca mais me recuperei. Não é pra menos.
O que a dupla de multi instrumentistas fez entre 72 e 75 levou muita gente a torcer os neurônios. O Neu! é influência para artistas que vão de David Bowie a Sonic Youth, passando obviamente por Stereolab e Life.In.Mono, chegando inclusive ao ventre kraftwerkiano de onde nasceram.
Neu!, seu primeiro disco lançado em 1972, abre com o minimalismo e a repetição contínua de “Hallogallo”, uma das canções mais absurdamente viajantes de todos os tempos. São 10 minutos de hipnose em um acorde, tocado à exaustão, oscilando, derretendo, ressurgindo.
Na sequência, o clima de ficção científica é substituído pela trilha sonora perfeita para filmes de terror que é “Sonderangerbot”, uma estranha (des)contrução sonora de sintetizadores e distorções, improvável até para os padrões do rock progressivo. Pura perturbação, que se repete menos sinistra e mais onírica em “Im glück”, faixa posterior às cascatas de wah wah e à lentidão chapada que conduzem “Weissensee”.
O que vem à seguir, com “Negativland”, é o ponto onde o Sonic Youth deve ter sido abduzido pelo Neu!. Guitarra barulhenta, arranhada sem dó, baixo proeminente e bateria constante, 4X4, pós punk como muitos pós punks imitaram anos depois.
Encerrando a longa viagem, a sombria “Lieber honig”, uma (bad) trip de ácido sob as águas geladas de algum rio no interior da Alemanha, paisagem que acompanha seus 7 minutos de duração.
O Neu! vem sendo descoberto e redescoberto ao longo desses 40 anos que separam 2012 de seu debute. De roqueiros letárgicos a produtores eletrônicos de vanguarda, são muitos os que bebem dessa estranha fonte de águas mágicas, que levam os sentidos a lugares insólitos.
Essencial!

