O Radiohead surgiu no comecinho dos anos 90 como ‘mais uma banda de guitarras’ da cena inglesa que viria a se tornar o britpop. Mas os caminhos escolhidos pelo quinteto de Oxford à partir da metade da década não foram os mesmos de seus conterrâneos/contemporâneos.

Com OK Computer, álbum de 97, o Radiohead deixava de lado o velho esquema de 4 acordes e partia em direção à experimentações, quebras de parâmetros e paradigmas, e embarcava numa viagem sem volta. Três anos depois Kid A era lançado e o que teve início em OK Computer ganhava contornos ainda mais drásticos.

 

“Está tudo no lugar certo? Sim!”

 

Aqui o Radiohead rompia definitivamente com as estruturas musicais e estéticas do indie rock da época, apontando a direção para muito do que viria ser produzido nos anos seguintes. E essa direção era, sem dúvidas, o futuro.

Lá se foram os acordes básicos de guitarra – aliás, lá se foram as guitarras. Lá se foram as composições simples, e lá se foi a ‘candidatura’ a sucessor do U2 como grande monstro do rock de estádios. Deixe o Coldplay nesta posição…

 

 

Kid A traz a banda apostando todas suas fichas em bricabraques eletrônicos, distorções vocais, melodias impensáveis em discos como Pablo honey (93) ou The bends (95), construídas como um grande quebra-cabeças tecnológico.

Nada no álbum é como o rock tradicional e nem mesmo como a eletrônica tradicional da virada do século. Nada de trip hop ou techno; aqui a criatividade do Radiohead explodiu e os estilhaços desta bomba se espalharam em muitas direções, sem uma trajetória padronizada.

 

 

Claro, há instrumentos tradicionais em Kid A. A linha de baixo violenta de “The national anthem” é uma das melhores de todos os tempos; mas cada arranjo vem transmutado, complexo, disfarçado entre diferentes texturas, colagens e elementos hipnóticos.

O clima do álbum é cerebral e sombrio, e um ar melancólico o encobre do começo (com “Evertything in it’s right place”) ao fim (em “Motion picture soundtrack”). Há em Kid A algo de desencanto, de abandono, e esses sentimentos – normalmente associados à queda – aqui remetem ao crescimento, a um realinhamento estrutural, um rito de passagem.

Desde então o Radiohead vem se reinventando, criando o novo à partir daquilo que absorve. E Kid A é exatamente isso: fruto de sua época, mas com um sabor diferente, exótico, e talvez por isso, incompreendido.

Essencial!

PS: Kid A é, de toda a discografia do Radiohead, o preferido da casa.

 


9 respostas para “Radiohead – Kid A (2000)”.

  1. […] ora o mestre Eno, outras (“Troca-letras”, nitidamente) as pirações do Radiohead circa Kid A e beirando o industrial sombrio em “Into the […]

  2. […] Worker abriga guitarras barulhentas, folk, Radiohead pré-eletronices, psicodelia, anos 50 E indie sambinha, tudo bem costurado e obviamente feito com […]

  3. […] já era chamado por muitos de gênio, e quem esperava algo…inusitado/surpreendente (como Kid A, por exemplo) levou uma […]

  4. […] Aqui no PCP preferimos a fase em que eles se tornaram a tal ‘outra coisa’, entre Ok computer e (principalmente) Kid a/Amnesiac. […]

  5. […] computer, que por sua vez levaria os rapazes ingleses a entender que não há limites na música (Kid A, meus caros, Kid […]

  6. […] resultado desses sentimentos veio no ano 2000 com Kid A e a quebra definitiva com os padrões roqueiros e com o mercado da música: um disco ácido, […]

  7. […] de OK Computer e principalmente de Kid A e Amnesiac as canções do Radiohead eram bem favoráveis à versões acústicas, tipo banquinho e […]

  8. […] faixas lançadas durante os anos noventa, antes de embarcarem no emaranhado universo onde criaram Kid A, seu álbum do ano 2000 (e meu […]

  9. […] sabe da minha preferência pela fase mais ‘fora da curva’ da banda de Oxford, entre Kid A e […]

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