
Eram tardes de verão quentes, muito quentes, numa época em que as chuvas da estação eram quase tão certeiras quanto as das 16h em Belém. Inevitavelmente as sessões de skate davam lugar as audições de discos e ‘folheadas’ nas playboys, tanto uns quanto outras dos irmãos mais velhos do Nenê.
Das revistas em questão nenhuma memória afetiva (ok, talvez uma lembrança ou outra da Cláudia Ohana), mas quanto aos vinis ouvidos, puta que pariu, cada um deles à sua maneira fez de mim o que sou hoje. Óbvio que lá, há quase 30 anos, não fazia ideia disso, mas já havia o encanto pelo processo: pegar os álbuns, colocá-los na vitrola, absorver os encartes e mergulhar em seus sulcos.
Ali era forjada minha personalidade, entre acordes e beats, entre o inglês de Bob Smith, Ian Curtis e Bernard Sumner e o português de Renato Russo, Nazi e Fabio Golfetti. Existia também a fúria punk e a suadeira acid house, claro – igualmente colados em meu DNA – mas havia algo naquele ar carregado de cinza, na melancolia que se chocava com o verão lá fora, que me abraçava e moldava de forma imperceptível mas avassaladora. Nada mais seria como antes, ainda bem.
Está em meu coração, o frio do outono…

