O Pere Ubu é o tipo de banda que quase ninguém ouve mas que todos sabem da importância. Sempre liderado por David Thomas, o grupo nasceu em 1975 na cidade de Cleveland, Ohio, e seus três primeiros discos – The modern dance, de 78; Dub housing, de 79; e New picnic time, também de 79 – são bíblias do pós-punk mais experimental, influência para um sem número de bandas nas décadas seguintes.
E agora, 35 anos após seu debute, a banda chega ao décimo sétimo álbum de uma carreira quase ininterrupta. Com vocês, Lady from Shanghai.
Mais legal que a notícia do lançamento do disco – via Fire Records – é ouví-lo e constatar que Thomas (agora acompanhado por Keith Moliné, Robert Wheeler, Gagarin, Michele Temple, Steve Mehlman e Darryl Boon) permanece fiel à sua insanidade.
Lady from Shanghai não é para as massas anencéfalas, para os ‘indies festivos’ que se conformam com o que é empurrado goela abaixo diariamente; é desconexo, volátil, desafiador.
David Thomas definiu este disco como ‘dance music consertada’, e ouvir suas três primeiras faixas (“Thanks”, “Free white” e “Feuksley ma’am, the hearing”) são provavelmente uma explicação melhor que qualquer tentativa de decifrar sua definição. Sua visão de música é incomum, suas palavras idem.
O álbum é cheio de fraturas, barulhos diversos e quando, por um momento, se acha que terá um andamento linear – em “And then nothing happened” – a fórmula que levaria a algo próximo ao pop de repente desanda. Thomas continua cagando e andando para execuções radiofônicas e afins (inclua aí os críticos), como há 35 anos.
Sendo assim, Lady from Shanghai não irá figurar em listas de melhores do ano na ‘blogosfera’ e nem nas dos formadores de opinião. Melhor assim.
Como disse Hélio Oiticica, ‘seja marginal, seja herói’.
PS: Quem comprar Lady from Shanghai leva junto um livro de notas sobre o álbum, chamado Chinese Whispers.