
Até hoje não tenho certeza dos meus sentimentos sobre Is this it, o disco de estreia dos meninos ricos e sujinhos de Nova Iorque, os Strokes.
Isso é um bom sinal no fim das contas, porque significa que o disco GERA reações e sentimentos.
Musicalmente, que na real é o que importa, Is this it beira a perfeição. Seja por trazer para o novo século influências certeiras – do Television à new wave, do Velvet Undergound ao garage rock – seja por remodelar essas referências de acordo com uma visão própria de música, criando uma obra original.
O álbum se sustenta nos riffs crus de guitarra, na cozinha também básica (não há viradas em Is this it, repare) e nos vocais ora preguiçosos, ora viscerais, sempre blasé. Pegue faixas como “The modern age”, “Hard to explain”, Take or leave it”, “NYC cops”…todas são assim, e essa receita básica basta para torná-las grandes canções.

O grande problema de Is this it – e de seus criadores – é o que foi feito à partir dele(s). O buzz sobre os Strokes os tornou algo que definitivamente eles não eram, e nem são: salvadores do rock e da juventude roqueira e urbana desse mundo globalizado pós-internet.
Se vestir como os Strokes e ter aquela ‘pose Stroke’ é via de regra até hoje, tocar como eles e superestimar seu debute também (veja aqui no Brasil os Sabonetes – e outras tantas bandas – ou a coletânea chamada Is this indie, com artistas brasucas refazendo as faixas do original).
Ok, este não é um problema para quem se propõe a escrever sobre música, certo? Errado!
A música não existe numa realidade paralela ou numa esfera separada do ‘mundo real’; é criada dentro do contexto social e cultural que cerca o artista. Logo, quem escreve sobre música escreve também sobre esse mesmo contexto, e se vê cercado por um mundo de iguais, de cópias, de falta de atitude e originalidade.
Mas isso definitivamente não é culpa dos Strokes!
