Na virada do século houve um resgate do electro oitentista, que recauchutado com muito brilho, champanhe e cocaína foi batizado pelo DJ nova-iorquino Larry Tee como electroclash.
Com artistas como a insana Peaches e o exótico Fischerspooner de um lado e o badalado DJ Hell mais a exuberante Miss Kittin de outro, a cena engoliu do povo da noite, cheia de excessos e sintetizadores. E correndo por fora e paralelamente a isso tudo havia o Ladytron.
O quarteto de Liverpool (ops…) chegava junto a essa enxurrada, mas sem glitter e com uma atitude que contrastava com o colorido fashion e as luzes quentes do electroclash. Eles eram blasé, estáticos, gelados, vestidos de preto (e algum tempo depois com uniformes); eles eram o lado negro do revival, e engana-se quem acha que vieram na esteira dessa onda retrô para criar o tal contraste. Simplesmente surgiram ao mesmo tempo e tiveram seus discos colocados na mesma prateleira dos ‘clashers’.
604 é o primeiro álbum cheio do Ladytron, lançado em 2001 pela Emperor Norton, e mostra que o caminho escolhido por Reuben Wu, Daniel Hunt, Helen Marnie e Mira Arroyo não é linear e suas canções não seguem uma fórmula padrão para que funcionem em uma pista de dança. É nitidamente um disco com muita influência da eletrônica dos anos 80, mas há pluralidade nele, com referências distintas – até porque a banda tem um descendente de chineses, um inglês, uma escocesa e uma búlgara – que nos anos e álbuns seguintes emergiriam ainda com mais força.
Enfim, numa pesquisa rápida sobre o Ladytron você vê que o lance deles realmente passava longe do electroclash, e por aqui você ouve o citado e preferido da casa 604. Boa viagem!
PS: Sim, o nome da banda foi roubado da música do Roxy Music.