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Não é de hoje que Thom Yorke deixou de ser só o vocalista do Radiohead para ser Thom Yorke, o sujeito que foi abduzido em algum momento dos anos 90 e voltou transformado desse passeio sabe-se lá por onde.

Desde OK Computer, lá em 97, tudo em que ele está envolvido faz o mundo parar e prestar atenção, seja pra idolatrar, seja pra falar mal. Quando lançou The eraser, seu primeiro disco solo, já era chamado por muitos de gênio, e quem esperava algo…inusitado/surpreendente (como Kid A, por exemplo) levou uma rasteira.

E o mesmo aconteceu agora com os ansiosos por Amok, álbum de estreia do projeto Atoms For Peace, formado por Neil Godrich, Flea (sim, o insano baixista do Red Hot Chilli Peppers), Joey Waronker (baterista que tocou com o R.E.M após o aneurisma de Bill Berry), Mauro Refosco (percussionista e músico de apoio do RCHP) e, claro, Thom Yorke.

 

 

Lançado no final de fevereiro via XL Recordings, o disco é – como já foi dito e redito por todos que o ouviram – uma continuação de Eraser.

Mesmo contando com grandes doses de percussão, com guitarras esporádicas e com as linhas graves de Flea fazendo par a bateria ‘orgânica’ de Waronker, Amok soa – e é, na real – um álbum de música eletrônica. Dos bons, diga-se de passagem.

 

 

Embora há 4 anos – quando começaram a se apresentar como Atoms For Peace tocando The eraser na íntegra – a coisa funcionasse bem como banda no palco, era quase óbvio que um futuro disco seguiria exatamente na mesma direção em que segue Amok; os parafusos restantes na cabeça de Yorke são todos eletrônicos agora. Por isso o álbum não é catártico como Kid A, não é sombrio como King of limbs; é Thom sem o Radiohead, com outros amigos, querendo se divertir.

A dancinha no clipe de “Ingenue” (e também em “Lotus flower” de 2011 e ao vivo no MOMA em 2012), as discotecagens, suas recentes declarações (‘Se não me divertir agora, quando vou?’) deixam claro que agora a intenção do cara é só uma: tirar onda; mesmo que suas letras ou seu jeito de cantar não reflitam exatamente isso, é nítido que ele está curtindo, colhendo os frutos de uma fama que, de uma forma ou de outra, começou ainda com “Creep”, há 20 anos atrás.

 

 

Enfim, creio que o recado já foi dado: se você não gostou de Eraser e esperava um trabalho cabeçudo, soberbo, genial ou afins, nem se dê ao trabalho de ouvir Amok. Agora, se pra você arte e diversão andam juntos (e Eraser lhe agradou, como a mim), pode por os fones de ouvido e escutá-lo sem medo, porque é um belo disco.

Recomendado!


5 respostas para “Atoms For Peace – Amok (2013)”.

  1. Sarah

    Adorei a crítica, embora tenha que destacar que, para mim, esse álbum é bem melhor do que o The King Of Limbs, e até do que The Eraser, com alguns momentos de genialidade, sim, como na transição fluída do acústico para eletrônico em Before Your Very Eyes, a simplicidade inovadora de Ingenue (com a melhor melodia dele desde o In Rainbows), o vocal suingado de Reverse Running e a espetacular sucessão de camadas de Amok, com seu mix de sintetizadores e piano. De arrepiar.

    Enfim, mesmo se divertindo o Yorke é capaz de mandar muitíssimo bem.

  2. Diego Negreiros

    Ótima resenha! Alguém teve o bom senso de analisar o álbum colocando as expectativas que sempre recaem sobre o Thom Yorke em segundo plano. Eu tenho que admitir que fiquei um pouco decepcionado com a pouca influência dos outros integrantes na música, mas é um ótimo cd, melhor que o King of Limbs.

  3. Bela resenha, Fábio. Sóbria e realista, ao contrário do que os críticos pseudo-inconformistas vêm postando por aí.

  4. Átila

    Assino em baixo, nem tão ruim quanto alguns estão dizendo, nem tão genial ou revolucionário. O cara tá tirando onda, tentando criar um som diferente sem grandes preoculpações.

  5. […] eraser, de 2006. Tanto nele quanto em Tomorrow’s modern boxes (2014) – ou no projeto Atoms For Peace – o lance do olho torto são as possibilidades de criação com bricabraques […]

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