Silêncio. De repente baixo e chimbau – ou seus similares eletrônicos, tanto faz – entram em cena. Depois um loop ininterrupto de sintetizador, efeitos, um bumbo, mais efeitos e a voz de Karl Hyde: ‘Thunder, thunder, lightning ahead. Kiss you kiss you dark and long…’.

De uma forma bem quadradinha, esse é o começo de Dubnobasswithmyheadman, terceiro disco do Underworld. E de uma forma quadradinha definitivamente não é o melhor jeito de ouví-lo.

Esta história tem início em 1990. A brisa do (segundo) verão do amor ainda aquecia os ingleses, Manchester ainda era o centro do universo e no olho do furacão raver/clubber/whatever o desconhecido DJ Darren Emerson se juntava aos synthpoppers oriundos e ao mesmo tempo deslocados dos anos 80 Karl Hyde e Rick Smith, aka Underworld. Ele, vindo da cena de acid house; eles, da new wave (antes de serem o Underworld, se chamavam Freur). E se o encontro tirou Emerson do anonimato, para Hyde e Smith significou uma reviravolta em sua carreira – e o adeus definitivo aos 80’s e sua indumentária de gosto duvidoso.

Nesse efervescente começo de década, os caminhos para o que hoje conhecemos como música eletrônica começavam a ser trilhados. Termos que hoje são corriqueiros, como techno, trance, drum and bass, etc, ainda não o eram. Era tudo uma coisa só, uma grande babel eletrônica, e na torre principal dessa metrópole movida à psicotrópicos o Underworld produzia sua estranha alquimia sonora; uma mistura de diferentes influências e referências, tanto musicais quanto culturais e estéticas. O resultado dessa mistura tem o curioso nome de Dubnobasswithmyheadman.

 

 

Dub sem baixo com minha cabeça, cara. Dentro das três cabeças responsáveis pelo álbum, dub e techno são irmãos, assim como house e ambient music, Tb 303, MK2 e guitarras, lisergia e euforia. É para dançar em clubes e em raves, mas também descalço na sala de casa; catártico e ao mesmo tempo explosivo.

Cada faixa pode ser desmembrada em pequenos fragmentos que nos levam a outros, e outros, e assim por diante. A primeira delas é “Dark & long”, cujo título explica muita coisa não só sobre a música em si, mas também sobre o álbum: apesar de ser um disco de dance music, feito para pistas de dança, Dubnobasswithmyheadman guarda toda a humanidade de três pessoas que colocaram ali muito da escuridão própria do ser humano (afinal, somos todos Yin e Yang; ou se preferirem, todos temos um lado negro). E aí está um de seus grandes trunfos.

 

 

“MMM skyscrapper, I love you”, outro house bem psicodélico, abre com a guitarra de Rick Smith – que é a base da quase instrumental e roqueira “Tongue” – carregada nos efeitos e em seus mais de 13 minutos as batidas lentas, o vocal de Karl Hyde e o arsenal eletrônico de Darren Emerson vão nos envolvendo e tirando nossos pés do chão – e nossa mente de dentro dos limites da caixa craniana.

Uma coisa que não pode deixar de ser dita sobre Dubnobasswithmyheadman é a pesada carga de dub que ele carrega. Em cada uma das nove faixas, sua influência pode ser ouvida: seja nos ecos de “Surboy”, na introdução da deliciosa “Dirty epic” – uma das canções mais soulful já gravadas, dentro ou fora do universo eletrônico – ou nitidamente na preguiçosa “River of bass”.

 

 

E se alguns anos depois o Underworld seria arrancado do gueto clubber via “Born slippy” – que entrou na trilha sonora de Trainspotting (assim como “Dark & long”) e colocou o trio em evidência mundial – “Cowgirl”, sétima faixa deste tesouro já pavimentava essa estrada de tijolos amarelos.

Dubnobasswithmyheadman pode ser rotulado se muitas maneiras: techno, house, progressive, chill out, ambient e até trip-hop (vide “M.E”, último biscoito do pacote). Também pode ser colocado como um álbum de transição, já que une o velho e o novo – do acid house ao techno e trance. Mas encaixá-lo em qualquer destes esquemas acaba sendo uma injustiça com o trabalho de Hyde, Smith e Emerson.

Pois o que o Underworld criou em 1993 foi uma obra atemporal, urbana, cool, poderosamente dançante, hipnótica e capaz de derreter neurônios e fritar corpos na mesma velocidade com que se diz Dubnobasswithmyheadman.

 


3 respostas para “Underworld – Dubnobasswithmyheadman (1994)”.

  1. BrunoR.

    Descobri este disco hj pelo post do underworld no facebook aos 20 anos de lançamento do disco. Ainda não havia parado para ouvir este disco até hoje… e devo dizer que é mesmo top level.
    Nao uso quimicos, mas parece que a onda é muito boa com este album hahah eu ja viajei estando são… imagine..
    Primeira vez que vejo reviews brasileiras de albums desses! muito bom!
    abçs!

    1. Esse disco dispensa os aditivos…hehehe. valeu!

  2. […] a trilogia de álbuns com a presença Darren Emerson – que começou com o maravilhoso Dubnobasswithmyheadman, em […]

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