O pernambucano Lenine está na estrada há muito tempo. Desde o começo dos anos 80, quando se mudou de Recife para o Rio de Janeiro e lançou Baque solto (83), já se vão muitos anos. Da metade dos anos 90 em diante, após compor muito para outros artistas, passou a ter reconhecimento e começou a colher na prática os frutos de tanto trabalho.

Em 2008 Lenine lançou o melhor disco nacional do ano, o intrincado Labiata. Agora em 2011 ele retorna mais experimental e minimalista – segundo palavras do próprio – com outro grande trabalho, Chão.

Lançado em outubro via Universal/Casa 9, Chão é realmente menos carregado que Labiata, mas não menos denso.
É experimental no sentido mais amplo e menos chato da palavra, pois traz experimentos aliados à melodia. A faixa-título que abre o álbum, por exemplo, tem passos como percussão, sintetizadores, um baixo pontual, a guitarra de Jr Tolstoi dispersa e distorcida e Lenine cantando e tocando violão com seu suingue e ritmo únicos.

Claro, há momentos certeiros para trilhas sonoras de novela: “Amor é pra quem ama” – que assim como “Isso é só o começo” – traz a ‘participação especial’ do canário da sogra de Lenine, é romântica (não piegas) e conduzida por arranjo de violão, fácil para Aguinaldo Silva e cia. Nessa linha global pode-se encaixar as ótimas “Envergo mas não quebro” e “Se não for amor, eu cegue”, não pela construção das músicas em si, mas por essa pegada naturalmente pop das composições do recifense.

E a face mais obscura de Chão fica em “Malvadeza”, um pequeno fragmento de barulho ininterrupto, quase perdido em meio às outras 9 faixas do disco – que por sinal é bem curto (28 minutos).

O álbum conta com a participação do já citado Jr Tolstoi, Lula Queiroga (ambos parceiros antigos de Lenine), Carlos Rennó, Ivan Santos e do filho do cantor, Bruno Giorgi (que trouxe a música concreta para o pai). Além deles, Chão tem apito de chaleira, batimentos cardíacos, lavadora de roupas, máquina de escrever e motosserra como coadjuvantes.

E a bela capa traz Lenine e seu neto Tom dormindo sobre o avô. ‘Nesse momento eu era seu chão’.
Pura poesia!

Um dos discos do ano, recomendado para quebrar preconceitos e barreiras geográficas.


Uma resposta para “Lenine – Chão (2011)”.

  1. Chão é o um disco genial! E mais uma vez Lenine se mostra um artista genial. Esse CD com certeza merece ser ouvido muitas vezes! Lenine deveria ser influência para todos os músicos da nova geração!

    Grande abraço!

    http://www.zuzazapata.com.br

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