Em 1972, Miles Davis já era um artista que poderia manter o burro na sombra e viver tranquilamente de seus êxitos. Mas mesmo com uma carreira consolidada, o genial trompetista – que desde os anos 60 já vinha experimentando novos caminhos dentro do jazz – decidiu mais uma vez dar um passo além do esperado, e assim surgiu On the corner.
Acompanhado de um time da pesada que tinha gente como Herbie Hancock, Dave Liebman e Chick Correa; com cinco bateristas se revezando nas gravações; sintetizadores, guitarras elétricas, sitara, tabla e doses pesadas de groove e psicodelia, Miles espantou definitivamente os puristas com um disco experimental, onde funk, rock, dub e afrobeat se fundem num trabalho provocativo e muito influente para o futuro da música.
“Black sattin”, sampleada pelo Primal Scream em “Burning Wheel”
Segundo Miles, On the corner expressa seu desejo de se reconectar com a juventude negra, nos anos 70 menos disposta ao jazz tradicional e mais entusiasmada com música das ruas, movida a drogas, linhas de baixo pulsantes, distorções e descompromisso com padrões.
O álbum traz tudo isso em suas 5 faixas. A abertura, com ‘a garota nova iorquina na esquina, pensando uma coisa e fazendo outra/vote em Miles’ (na verdade uma música dividida em quatro) já entrega que On the corner não é convencional nem se assemelha a nada feito antes. E essa loucura prossegue pelos próximos 35 minutos…
On the corner divide crítica e público até hoje; taxado de comercial por uns e de anti-comercial por outros, é sem dúvidas um disco controverso. Mas é mais uma prova da genialidade de Miles.
E se aqui, entre outras coisas, o mestre deixou seu trompete em segundo plano, esporádico e flertando com solos de guitarra, não foi sem razão: queria mostrar – e mostrou – que ele e sua música não seguem regras. Não é isso o jazz?
Essencial!
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